Historicamente certos grupos populacionais parecem sofrer de mecanismos sociais negativos, de uma “vulnerabilidade societal”, impedindo o acesso igualitário aos sistemas sociais básicos como o social, o económico, o institucional, o territorial e o das referências simbólicas, indispensáveis para o exercício de cidadania.
Os desfasamentos entre integração cultural e integração estrutural chamam a atenção para a diversidade de modalidades de integração e também para a integração como um processo que comporta várias dimensões. Assim, a integração consiste no processo de participação dos indivíduos na sociedade pela actividade profissional, aprendizagem das normas, do consumo material, a adopção dos comportamentos familiares e culturais, as trocas e a participação nas instituições comuns.
Os ciganos estão presentes na sociedade portuguesa há mais de cinco séculos e são vítimas de uma visão estereotipada negativa. No entanto tem-se verificado uma crescente preocupação em integrar esta etnia, visto que é uma das mais populacionais em Portugal. O processo de integração deste grupo passa essencialmente pela frequência das escolas, dos hospitais e centros de saúde e tem revelado muitos progressos, como é referido pela Enfermeira Virgínia.
A frequência escolar marca decisivamente a vida dos seres humanos. Comparando a situação actual com as gerações anteriores, defende-se que hoje os ciganos vão mais à escola, mesmo as raparigas, por obrigação ou não, o que significa que a curto prazo esse aspecto se irá reflectir positivamente sobre a cultura cigana. A escolarização mais prolongada tem um grande peso na comunidade e servem de modelos de referência para os mais novos, uma vez que o modo de vida tradicional ligado às feiras tem tendência a acabar. São também referidos aspectos de maior abertura por parte dos ciganos, através dos casamentos e das relações interpessoais, nomeadamente nos modos de falar para os não ciganos. As transformações do ser cigano passam pelo desenvolvimento de actividades diversificadas e pelo acesso a bens de consumo, mas isso não significa de todo a perda da identidade cultural.
Uns dos bens que actualmente este grupo mais utiliza são os serviços de saúde. Cada vez mais ganham consciência de que é realmente importante realizar um acompanhamento regular das crianças e das mulheres grávidas, por exemplo, como indica a Enfermeira Virgínia.
O fechamento dos ciganos levou a que não lutassem nem competissem com outros interesses no sentido de obterem ganhos em termos de participação social. Viveram à mercê do progresso social e económico e fora das coordenadas de industrialização e de competitividade que caracterizam o mundo moderno, pagando hoje o preço desse afastamento da sociedade envolvente. É o que se passou com as associações em que houve resistência por parte dos mais velhos por temerem que o facto de se falar nos ciganos levasse a que desaparecessem, enquanto comunidade. Porém, esta realidade tem vindo a mudar pois, a sociedade em geral tende a aceitá-los e a integrá-los em termos de saúde e educacionais, essencialmente.
Reflectindo sobre o que alguns ciganos pensam ser importante manter ou não na cultura cigana, defendem que se deve manter a alegria e o valor da família, o respeito e o cuidado que têm pelas crianças e pelos idosos. Deve-se mudar o papel da mulher, tal como em todas as comunidades, não se devem fechar os ciganos nos mesmos espaços urbanos. Estes devem ter formação para poderem mudar de vida para outra ocupação, devem poder escolher o seu futuro e poderem ser representados politicamente participando mais activamente na sociedade em que estão inseridos e fortalecendo as relações entre todos.